Um homem sábio fazia um passeio pela praia, ao alvorecer. Ao longe, avistou um jovem rapaz que parecia dançar ao longo das ondas. Ao se aproximar, percebeu que o jovem pegava estrelas do mar da areia e as atirava suavemente de volta à água, e então, o homem sábio lhe perguntou: - o que você está fazendo? - O sol subindo e a maré está baixando, se eu não as devolver ao mar irão morrer - Mas meu caro jovem, há quilômetros e quilômetros de praias cobertas de estrelas do mar...você não vai conseguir fazer qualquer diferença. O jovem se curvou, pegou mais uma estrela do mar e atirou-a carinhosamente de volta ao oceano, além da arrebentação das ondas, e retrucou: fiz a diferença para essa aí! Essa parábola nos revela o quanto, muitas vezes, acreditamos que não faremos diferença ao nos dispor a sermos compassivos e ajudar alguém de alguma forma...por isso talvez no acomodamos...
John Stott aponta o paradoxo da condição humana com propriedade. Segundo ele, "somos capazes de pensar, escolher, criar, amar e adorar; mas também somos capazes de odiar, cobiçar, lutar e matar. O ser humano inventou os hospitais para o cuidado dos doentes, as universidades para a aquisição de conhecimento e as igrejas para adoração a Deus. Todavia, inventou também as câmaras de tortura, os campos de concentração e os arsenais nucleares...somos ao mesmo tempo nobres e ignóbeis, racionais e irracionais, morais e imorais, criativos e destrutivos, amorosos e egoístas..."
David Platt nos lembra que alguns de nós possui mais dinheiro do que a maioria pela capacidade de trabalhar em nossa cultura. "Temos oportunidade de aprender nas escolas, de estudar em universidades e de conseguir emprego e ganhar dinheiro. Quando maximizamos nossas capacidades e aproveitamos as oportunidades, honramos a Deus e cultivamos o bem da sociedade" (2016). Entendo que ele quer nos dizer que não há desculpas, nem justificativas para cada um fazer sua parte,numa realidade que nos confronta com questões sociais graves e que podemos sim, fazer alguma coisa...ainda que individualmente.
Mas qual a medida de nossa ajuda para que ela tenha resultados construtivos? Platt responde e eu concordo com ele: "Ajudar com sabedoria, com atenção para completar o que falta a alguém responsável, em vez de subsidiar um irresponsável. A pior coisa que podemos fazer para o necessitado é negligenciá-lo. A segunda pior coisa é subsidiá-lo, ajudá-lo a sobreviver um dia ignorando o que fazer para ajudá-lo a sobreviver a vida toda...uma ajuda desse tipo requer atenção pessoal, prestação de contas consistente e compromisso de longo prazo". Para Platt essa ajuda vai muito além de apenas dar donativos...é preciso compartilhar a vida.
Quem de nós está disposto a fazer o bem, sair da zona de conforto e se comprometer de fato? Creio que a pergunta pertinente é: "Qual o propósito da minha vida nesse mundo"? "Como posso fazer a diferença"?